MEDITANDO NA TRANSFIGURAÇÃO - A Lenda do Monge e do Passarinho
/
0 Comments
Feliz Festa da Transfiguração de Jesus no Monte Tabor!
Convido-vos, irmãos, a meditar na reação dos santos apóstolos, Pedro, Tiago e João, diante da Gloria do nosso Salvador. Maravilhados, e esquecidos de si mesmos, São Pedro, tomando a palavra, diz:
"“Mestre, é bom estarmos aqui. Podemos levantar três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias!...”.
São Lucas, 9, 33.
Até mesmo o Evangelista testifica que eles estavam fora de si, dizendo logo asseguir: "Ele não sabia o que dizia."
Mas, como diz o salmista:
"mil anos à vista de Deus são como o dia de ontem que já passou.".
Como pode ser isto possível? Como é possível que os Bem-Aventurados vivam em completo Paraíso na contemplação da Face de Deus por TODA a Eternidade?
Não se aborrecerão a dada altura?
De facto, os bens e gostos do mundo, uns mais, outros menos, todos acabam por aborrecer e cansar, porque em si são limitados, e o homem não é feito para eles. Porém, a formosura de Deus é infinita: suas perfeições, excelências e grandezas não têm limite.
Para que esta verdade se vos faça mais credível, vou vos contar uma história sobre um monge que, embatendo precisamente no salmo acima referido, atormentava-se com receios de se fartar da monotonia do Paraíso.
Tão perturbado estava que mal conseguia se concentrar em suas orações. Por isso, pediu autorização para ir ao bosque ao lado do Mosteiro cortar lenha, e assim pensar.
Mas a dúvida não o deixava em paz. Espetando o machado num tronco cortado, o religioso pediu afetuosamente a Nosso Senhor se poderia iluminá-lo quanto ao dito salmo.
Apareceu-lhe então, um passarinho, que cantando docemente, voava diante dele de um lado para o outro.
Seguindo o curioso pássaro, o monge deixou-se levar a pouco e pouco para o coração do bosque, até que o pássaro, pousando em certa árvore, deliciou-o com o seu magnífico canto. Dali a um breve intervalo (ou assim pensava o servo de Deus) o pássaro levantou vôo e desapareceu, para grande mágoa do monge.
No regresso para o mosteiro, pareceu-lhe que a floresta estava diferente e, para sua surpresa, ao reencontrar o seu machado espetado no touco, este estava todo enferrujado.
Chegando ao Mosteiro, achou a porta fechada. Perguntou-lhe o Porteiro quem era, e a quem buscava. Respondeu-lhe: Eu sou o sacristão, que poucas horas há que saí de casa, e agora torno, e tudo acho mudado.
Não o reconhecendo de lado nenhum, perguntado o Porteiro pelos nomes do Abade e do Prior, e o monge nomeou-os, admirando-se muito de que não o não deixasse entrar. Mas o Porteiro não conhecia os nomes.
Levou-o, então, ao Abade, mas os religiosos não se conheceram um ao outro; nem o Monge sabia que dizer, estupefacto com a situação.
O Abade, então, iluminado por Deus, mandou vir os Anais e histórias da Ordem: onde, buscando, e achando os nomes que o Monge apontava, veio a averiguar com toda a clareza que haviam passados mais de trezentos anos desde que o Monge saíra do Mosteiro e desaparecera.
Caindo em si, o monge percebeu de que forma miraculosa a sua oração foi atendida. De joelhos e em lágrimas, contou aos irmãos o que lhe havia sucedido, e os Religiosos, dando glória a Deus, o aceitaram como Irmão. E ele, considerado na grandeza dos bens eternos, e louvando a Deus por tão grande maravilha, pediu os Sacramentos, e brevemente passou desta vida com grande paz no Senhor.
Vede agora que, se a música de um passarinho pôde entreter aquele Monge por trezentos anos com tanto gosto seu que lhe pareceram poucas horas, como não bastará a vista infinita de Deus para suspender a nossa alma sem fastio, nem cansaço, por toda eternidade? Antes, com satisfação, e gozo tão cabal, como se naquele instante começasse a ver a Deus.
"Ó beleza tão antiga e sempre nova" - Santo Agostinho.