ELIAS VOLTARÁ? - 20 de Julho, dia de Santo Elias

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Santo Elias, um dos maiores entre os profetas do antigo testamento, teve a missão de reconduzir o povo ao único Deus, numa época de grande apostaria e idolatria.

Por meio de grandiosos prodígios, Elias revelou ao seu povo o Poder e Soberania de Deus. E por meio de uma brisa leve, Deus revelou a Elias o amor à simplicidade e mansidão.

A Ordem carmelitana está historicamente ligada ao profeta Elias, a quem a tradição considera como o verdadeiro fundador do Carmelo.

Depois de trucidar os falsos profetas de Baal no Mt. Carmelo, o profeta terá formado um grupo de seguidores dedicados a eliminar o culto aos deuses pagãos e a viverem uma vida contemplativa.

A vida deste homem de Deus ensina-nos a procura Deus na pacífica brisa da contemplação, na qual só O poderemos encontrar depois de destruirmos todos os ídolos no nosso coração.

O relato de sua movimentada vida está contido nos dois livros dos Reis. Mas a sua história não terminou aí. Foi antes interrompida de forma misteriosa:

"Chegou então a altura do Senhor levar Elias para o céu num remoinho! (...) Enquanto iam caminhando e conversando (Elias com Eliseu), de repente um carro de fogo apareceu e passou pelo meio deles, separando-os; Elias foi assim levado para os céus num remoinho." - 2 Reis 2-11

Arrebatado em corpo e alma, é consagrada tradição judaica e católica que Elias não terá morrido. E não só não morreu como também voltará no fim dos tempos, antes da vinda de Cristo!

Esta crença é, alias, corroborada por várias passagens da Bíblia. Por exemplo, no profeta Malaquias, Deus faz essa predição:

“Vou mandar-vos o profeta Elias, antes que venha o grande e temível dia do Senhor, e ele converterá o coração dos pais para os filhos, e o coração dos filhos para os pais, de sorte que não mais ferirei de interdito a terra” (Ml 3, 23-24).

De tal modo a ideia da volta de Elias estava fixa na mente dos judeus, que estes tomaram Nosso Senhor Jesus por Elias retornado (Mt 16, 14; Lc 9, 8), e pensaram o mesmo de São João Batista (Jo 1, 21). Este último negou que o fosse, embora tivesse vindo “no espírito e no poder de Elias, reconduzir os corações...” (Lc 1, 17).

Mas acima de tudo, são misteriosas as palavras de nosso divino Salvador a Pedro, João e Tiago, logo após o episódio da Transfiguração, durante a qual apareceram também Elias e Moisés. Como todo judeu piedoso, acreditavam na necessidade de Elias preceder o Messias. E agora ele aparecera na Transfiguração de Jesus! Seria o começo? Um deles não se conteve e perguntou ao Mestre:

“Por que dizem os escribas que Elias ainda há de vir?”

“E ele, respondendo, disse-lhes: Elias certamente há de vir (antes de minha segunda vinda), e restabelecerá todas as coisas” (Mt 17, 11).

A estas misteriosas palavras, podemos perguntar: "Ora, mas como se poderá dar isso? Onde se encontra ele agora, então?". Não se sabe.

A Sagrada Escritura, na versão dos Setenta, diz ter sido ele arrebatado “quasi in coelum” (“quase ao céu”). Entre os Padres e Doutores da Igreja, embora haja consenso de que não está no Céu e de que está vivo, existem várias opiniões, da qual sobressaem-se quatro, enumeradas pelo exegeta Cornélio a Lápide (cf. Commentaria in Scripturam Sacram, In librum IV Regum, tomo IV).

A primeira é defendida por São Jerónimo e Santo Ambrósio, segundo a qual Santo Elias teria sido arrebatado até o céu realmente, mas não o céu dos bem-aventurados, cujas portas só seriam abertas por Cristo após sua subida. No céu, Elias viveria uma vida quase celestial, até que possa usufruir dos bens celestiais em plenitude após a subida de Cristo.

A segunda opinião é defendida por Santo Irineu, São Justino, Santo Isidoro de Sevilha e Santo Tomás, e afirma que Santo Elias foi levado ao lugar na terra onde antigamente ficava o Paraíso do Éden, onde viviam Adão e Eva antes do pecado; lá, Elias não viveria uma vida quase celestial, como na hipótese de São Jerónimo, mas apenas a não corrupção de seu corpo, vivendo em oração e contemplação e beneficiando de grandes consolações divinas. Afirma Santo Tomás:

"Henoc foi levado para o paraíso terrestre, onde se crê que, juntamente com Elias, viverá até que ocorra a vinda do Anticristo". (Suma Teológica, Parte III, questão 49, artigo 5, objeção 2).

A terceira opinião é de São Gregório Magno e é quase eco desta segunda. São Gregório defende não que Santo Elias tenha sido levado ao Paraíso do Éden, mas a algum lugar desconhecido. Afirma ele que:

"Elias foi elevado ao céu aéreo, para ser imediatamente levado a uma região secreta da terra, e ali viver numa grande quietude da carne e do espírito, até que volte no fim do mundo e pague o débito da morte" (Hom. 29, in Evang.).

A quarta opinião é de São João Crisóstomo, Santo Agostinho, São Cipriano e Teodoreto de Ciro que afirmam tão somente que o local para onde foi Elias (e Enoque e Moisés) é incerto.

Independentemente da opinião destes santos exegetas, é muito celebrada nos sermões e nos corações dos fiéis a ideia da volta de Elias como precursor da segunda vinda de Cristo, como São João Batista o havia sido da primeira.

Inclusive, pela boca de Nossa Senhora em La Salette, ouvimos que:

“A Igreja será eclipsada, o mundo estará na consternação. Mas eis Enoc e Elias cheios do Espírito de Deus. Eles pregarão com a força de Deus, os homens de boa vontade acreditarão em Deus e muitas almas serão consoladas. Eles farão grandes progressos, pela virtude do Espírito Santo, e condenarão os erros diabólicos do Anticristo".

De facto, podemos mesmo ponderar se aquele de quem as profecias apocalípticas falam será o Elias histórico, ou se antes alguém revestido do mesmo "espírito e poder" como o foi São João Batista na primeira vinda de Cristo.

Eu vos digo: Elias já veio, e não o reconheceram, pelo contrário, fizeram com ele o que quiseram; (...) Então os discípulos entenderam que lhes falava de João o Batista’ (Mt, 17, 12-13)

Desta forma, Nosso Senhor poderá estar a indicar que, da mesma forma que a "missão de Elias" identificou-se com São João na Sua primeira vinda, alguém revestido do mesmo espírito e missão poderá anteceder a Sua vinda nos Últimos Tempos!

Todas estas opiniões são aceitas pela Igreja, que não possui um juízo definitivo a respeito.

Ainda assim, pessoalmente, sinto-me inclinado a associar-me à fé dos padres da Igreja, pois a Deus nada é impossível.

Antes da primeira vinda do Messias ao mundo, São João Batista foi enviado como precursor. Antes da segunda vinda, próxima do grande e terrível julgamento final, Elias deverá retornar. O príncipe dos profetas ainda não terminou sua missão: há quase três milénios aguarda a chegada do fim dos tempos.

Feliz aniversário do arrebatamento de Santo Elias!