PARA SEGUIR A CRISTO - Meditando o Evanjelho
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Naquele tempo, enquanto Jesus e seus discípulos caminhavam, alguém na estrada disse a Jesus: "Eu te seguirei para onde quer que fores".
Jesus lhe respondeu: "As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça". Jesus disse a outro: "Segue-me". Este respondeu: "Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai". Jesus respondeu: "Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus". Um outro ainda lhe disse: "Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares". Jesus, porém, respondeu-lhe: "Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus". Palavra do Senhor. (Lucas 9, 56-62)
O contexto desta passagem dá-se quando Jesus tomou o firme propósito de subir a Jerusalém, onde haveria de ser crucificado. E ao longo do caminho, esta passagem relata 3 encontros. Três vocações diferentes.
No primeiro encontro, algum entusiasta vem ter com Jesus querendo segui-lO. Porém, Jesus alerta-o de que para seguir os Seus passos existe uma consequência. Existe um preço.
"As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça"
Desde já vemos a consequência principal de querermos seguir a Cristo. Quando nós decidimos segui-lo, tornamo-nos estrangeiros. Peregrinos neste mundo.
Neste sentido, e por curiosidade, a palavra Paróquia vem do grego Paroikia, que quer dizer “acampamento de peregrinos”.
É essa a ideia de que nós somos camados a ser Igreja Peregrina neste mundo. Depois do Baptismo, a nossa Pátria é o Reino dos Céus, já não pertencemos a este mundo. É só na Pátria Celeste o lugar onde verdadeiramente encontraremos descanso e um sítio para “repousar a cabeça”.
Embora, à primeira vista, isto pareça uma ideia desanimadora, pelo contrário, vejo-a como uma verdade libertadora. Se este lugar não é a meta, mas simplesmente a viajem para casa, não há perigo que nos amedronte, cansaço que nos abata ou problema que nos desanime. São simplesmente os desafios da caminhada com Cristo para a Jerusalém Eterna.
No segundo encontro, é Nosso Senhor que se dirige a alguém. Esta segunda personagem tem um outro perfil, e parece ser do tipo responsável. Como bom judeu, pelo mandamento de honrar os pais e o dever sagrado de enterrar os mortos, ele precisava sepultar o seu pai. Penso que a mensagem de Jesus neste ponto é a de que não nos devemos esconder nas obrigações, nos deveres, como desculpa para não anunciarmos o Reino de Deus. Às vezes vêmo-nos tão atarefados com os deveres diários, até mesmo os religiosos (preparar a Igreja, o sermão, as refeições, a roupa, os presentes) que esquecemos ou usamos disso para evitar uma real intimidade com o Senhor.
No terceiro encontro, alguém, desejando seguir a Jesus, pede um tempo para se despedir dos pais. Este terceiro discípulo quer seguir Jesus, mostra-se decidido como o primeiro, mas prudente como o segundo.
“deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares”.
Este mesmo pedido foi feito por Eliseu a Elias. Antes de Elias subir aos Céus (reparem no paralelismo com Jesus), o profeta escolheu um sucessor. Eliseu. E este pede para, antes de assumir a missão de profeta, ir-se despedir dos seus pais. E Elias permitiu.
Eliseu faz um churrasco com os bois, usando a madeira do próprio arado dos bois. Depois sim, Elias colocou aos ombros de Eliseu o seu manto, símbolo da sua missão, e foi levado pelo Senhor para o Céu.
O pedido de Jesus é muito mais radical.
"Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus".
O olhar para trás remete para a esposa de Lot, transformada em sal quando, fugindo da destuição de Sodoma, olhou para trás. Será que Cristo está a ser desumano ao ponto de nem deixar se despedir? Não o creio. Mas ao contrário de Eliseu que recebeu no ombro o manto de Elias, nós recebemos a Cruz.
A Cruz é como um novo arado, que rasga o solo para a fecundar. Pôr a mão no arado significa por mãos à obra, trabalhando pelo Reino de Deus. “Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me”. Se queremos realmente seguir a Cristo, devemos deixar para trás os maus hábitos, as modas do mundo sem olharmos para trás, isto é, sem remorsos daquilo que deixámos, como que invejando os prazeres mundanos, e sem permitir que os afetos humanos nos impeçam de seguir a vocação que Deus nos deu.
Acho que podemos fazer um paralelismo desta passagem com uma passagem mais à frente de Lucas.
"Se alguém quiser seguir-Me e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a Mim, não pode ser Meu discípulo.
E aquele que não carrega sua cruz e não Me segue não pode ser meu discípulo.
Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele,
Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.Lucas 14:26-30
Mas estaria o Senhor a nos dizer para desprezarmos os nossos familiares e amigos?
Pelo contrário.
Respondo com uma frase de C.S.Lewis:
Quando eu tiver aprendido a amar mais a Deus do que ao meu mais querido amigo, amarei esse meu amigo melhor do que o amo agora. (...) Quando o que é Principal vem primeiro, as coisas secundárias não são suprimidas, mas elevadas”.
Deus Vult!