Na humilde casa de Nazaré habitava uma família deveras extraordinária. Nesta casa vemos  o Filho de Deus feito homem,  o Verbo En...

SAGRADA FAMÍLIA - Lição e Modelo de hierarquia

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Na humilde casa de Nazaré habitava uma família deveras extraordinária.

Nesta casa vemos o Filho de Deus feito homem, o Verbo Encarnado, o Intangível Senhor do Universo, o Eterno, feito visível e tangível numa pequena e simples criança, que crescia de perfeição em perfeição "em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens”(Lc. 2, 52).

Por outro lado, nessa Família vemos também Maria. A Virgem Imaculada, escolhida desde toda a eternidade para ser digna Mãe do Salvador! De longe a mais perfeita criatura de Deus e, por não ter defeitos, também ela crescia constantemente de virtude em virtude.

Ao lado do Menino Jesus e de Nossa Senhora estava São José, da linhagem do rei David. Varão justo, modelo de masculinidade e santidade. 

Diz-se que nos tornamos semelhantes às três ou quatro pessoas com que mais convivemos, e os santos não são excepção. De fato, vemos santos se erguerem entre outros santos (Ambrósio - Agostinho. Teresa - João da Cruz. Inácio - Xavier, e a lista continua). No caso de São José, ele estava cercado pelas duas pessoas mais perfeitas que já existiram! É difícil imaginar a que píncaro, a que nível de graça São José deve ter chegado, convivendo com sua família!

Jesus, Maria, José: três perfeições que chegaram todas ao pináculo a que cada uma devia chegar; três auges numa harmonia de desigualdades como jamais houve na face da Terra.

Porém, se pensarmos um pouco, não encontramos pecado na Sagrada Família até ao momento em que São José entra em cena! E se alguma vez se ouviu um "desculpa" naquela casa, é presumível que tenha saído da boca do humilde São José.

Imagine então ser chamado por Deus para ser o chefe espiritual da Sagrada Família, sendo o menos qualificado dos três!

À primeira vista, a constituição da Sagrada Família é um mistério. 

A hierarquia posta por Deus entre estas três sublimes desigualdades era de uma ordem admiravelmente inversa.

Pois, nela, quem tinha mais autoridade era São José, como patriarca e pai, com direito sobre a esposa e sobre o fruto de suas puríssimas entranhas.

A esposa é Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. E como Mãe, tem Ela autoridade sobre um Deus que quis submeter-se-lhe fazendo-se Seu Filho. 

Nosso Senhor Jesus Cristo, como filho, deve obediência a esse pai adotivo e à sua Mãe, como atestam as escrituras (Lc 2,51).

Que imenso, insondável e sublime paradoxo! Por que dispôs Deus essa inversão de papéis?

Assim o fez para nos dar uma grande lição: A autoridade hierárquica legítima vem do reconhecimento de que essa autoridade é concedida por Deus (Jo 19,11), pelo que devemos obedecer aos nossos superiores mesmo quando estes sejam indignos, ou menos dignos do que nós. Quer por seus defeitos quer por suas limitações. 

Ele ama a hierarquia e deseja que a sociedade humana seja governada por este princípio, do qual o próprio Verbo Encarnado quis dar exemplo.

Começando pela família, esta deve ser imagem do amor de Cristo pela Igreja, uma Igreja doméstica (1), onde o PAI é a cabeça, chefe de família à semelhança de Cristo, a MÃE é o coração, aquela que congrega e medeia como a Igreja, os FILHOS, fruto da união do casal, por eles são nutridos, guiados e protegidos.

Quanto à sociedade, vemos no Catecismo da Igreja Católica, sobre o Mandamento de honrar pai e mãe:

2234. "O quarto mandamento da Lei de Deus manda que honremos também todos aqueles que, para nosso bem, receberam de Deus alguma autoridade na sociedade."
2238. "Os que estão sujeitos à autoridade considerarão os seus superiores como representantes de Deus, que os instituiu ministros dos seus dons «Submetei-vos, por causa do Senhor, a toda a instituição humana [...]. Procedei como homens livres, não como aqueles que fazem da liberdade capa da sua malícia, mas como servos de Deus» (1 Pe 2, 13.16). A sua colaboração leal comporta o direito, e às vezes o dever, duma justa reclamação de quanto lhes parecer prejudicial à dignidade das pessoas e ao bem da comunidade.


Para concluir de uma forma mais prática, recolhi uma lista de preciosos conselhos de santo António Maria Claret, do seu livro "O caminho reto – Obrigação de vários estados. Pág. 53". Ora vejam...


OBRIGAÇÕES DO CHEFE DE FAMÍLIA

1- Sustentar a família conforme o próprio estado.
2- Não dissipar os bens da família em jogos nem em vaidades.
3- Pagar pontualmente o ordenado aos criados, jornaleiros.
4- Vigiar sobre os costumes de seus filhos e dependentes.
5- Procurar que frequentem a palavra de Deus e os santos Sacramentos.
6- Corrigí-los com prudência.
7- Castigá-los sem paixão de ira etc.
8- Tratá-los com benevolência.
9- Tê-los ocupados.
10- Assistí-los em suas doenças.
11- Edificá-los com o bom exemplo.
12- Encomendá-los a Deus, e proporcionar-lhes bons mestres, patrões, etc.
13- Procurar a devida separação entre filhos e filhas, entre pessoas de diferente sexo.
14- Não admitir pessoa alguma que possa, com suas conversações, ou de qualquer outra maneira, ser motivo de escândalo à família.


OBRIGAÇÕES DOS FILHOS E DEPENDENTES

1- Olhar e considerar os pais e patrões como representantes de Deus.
2- Amá-los de coração.
3- Respeitá-los devidamente e falar bem deles, tanto em sua presença como em sua ausência.
4- Obedecer-lhes com prontidão.
5- Serví-los com fidelidade.
6- Socorrê-los em suas necessidades.
7- Sofrer seus defeitos, calando sempre.
8- Rogar a Deus por eles.
9- Ter cuidado das coisas de casa.


OBRIGAÇÕES DOS MARIDOS

1- Amar a sua mulher, como Jesus Cristo a Igreja.
2- Não desprezá-la, porque é companheira inseparável.
3- Dirigi-la como chefe.
4- Ter cuidado dela, como guarda de sua pessoa.
5- Sustentá-la com decência.
6- Sofrê-la com toda paciência.
7- Assisti-la com caridade.
8- Corrigi-la com benevolência.
9- Não maltratá-la com palavras nem obras.
10- Não fazer nem dizer coisa alguma diante dos filhos , ainda que pequenos, que possa ser para eles motivo de escândalo.


OBRIGAÇÕES DAS ESPOSAS

1- Estimar o marido.
2- Respeitá-lo como a sua cabeça.
3- Obedecer-lhe como a seu superior.
4- Assisti-lo com toda a diligência.
5- Ajudá-lo com reverência.
6- Responder-lhe com mansidão.
7- Calar quando estiver zangado e enquanto durar a zanga.
8- Suportar com paciência seus defeitos.
9- Repelir toda a familiaridade.
10- Cooperar com o marido na educação dos filhos.
11- Não desperdiçar as coisas e os bens da casa.
12- Respeitar os sogros como pais.
13- Ser humilde com as cunhadas.
14 -Conservar boa harmonia com todas as pessoas da casa.

OBRIGAÇÕES DOS JOVENS MOÇOS

1- Assistir ao catecismo.
2- Respeitar os anciãos.
3- Evitar as diversões perigosas.
4- Fugir da ociosidade e de companhias suspeitas.
5- De noite não voltar tarde para casa.
6- Mortificar o próprio corpo.
7- Evitar namoriscos (namoros sem retas intenções), cantigas profanas etc.
8- Não tomar ocultamente nenhuma coisa, nem que seja da própria casa.
9- Rogar a Deus e tomar conselho de homens prudentes, para acertar na eleição do estado (vocação) que deve tomar.


OBRIGAÇÃO DAS JOVENS MOÇAS

1- Em todas as ações guardar suma modéstia.
2- Ser mui considerada nas palavras.
3- Não desejar ver nem ser vista.
4- Não vestir com vaidade.
5- Fugir de conversas a sós com homens.
6- Abominar os namoriscos, bailes, teatros e etc.
7- Amar os exercícios de piedade.
8- Fazer alguma discreta mortificação.


OBRIGAÇÕES DAS VIÚVAS

1- Ser modêlo de virtudes para as donzelas e casadas.
2- Amiga de retiro.
3- Inimiga da ociosidade.
4- Amante da mortificação.
5- Dada à oração.
6- Zelosa de seu bom nome.


OBRIGAÇÕES DOS RICOS

1- Agradecer a Deus os bens recebidos.
2- Não pôr sua confiança nêles.
3- Não acrescentá-los com usuras.
4- Não conservá-los com injustiças.
5- Não se servir deles para fomentar nenhuma paixão.
6- Ser caridoso com os pobres e com a Igreja.
7- Pensar amiúdo que os ricos estão em muito perigo de condenar-se pelo mau uso que fazem das riquezas.


OBRIGAÇÕES DOS POBRES

1- Resignar-se à vontade de Deus em sua pobreza.
2- Não apropriar-se de coisas alheias nem mesmo sob o pretexto de necessidade.
3- Industriar-se para adquirir um honesto bem-estar.
4- Procurar enriquecer-se em bens eternos.
5- Lembrar-se que Jesus Cristo e Maria Santíssima foram pobres.


OBRIGAÇÕES DOS NEGOCIANTES

1- Contentar-se com um ganho moderado.
2- Dar a todos o justo no peso e na medida.
3- Não falsificar os gêneros.
4- Não apoderar-se de todo um gênero ocasionando a miséria ao povo.
5- Guardar-se de toda a classe de fraude ou engano.
6- Ter caridade com os pobres.

OBRIGAÇÕES DOS ARTÍFICES E JORNALEIROS

1- Oferecer a Deus com frequencia todas as privações e fadigas.
2- Trabalhar com toda a diligencia e exatidão.
3- Não trabalhar em dia santo, não enfadar-se nem blasfemar.
4- Não reter as coisas alheias.
5- Não ocasionar gastos, nem causar prejuízos a seus próprios patrões.
6- Não perder tempo.
7- Não faltar à palavra dada.
8- No trabalho não murmurar, nem ter conversações livres etc.



Que a Sagrada Família nos guie para compreendermos estes mistérios de Deus e torne as nossas famílias numa verdadeira igreja doméstica, onde todos colaboramos para a santidade uns dos outros.

Deus Vult!




Fontes:
(1) - 4. João Paulo II. Ex. ap. Familiaris consortio, 21: AAS 74 (1982) 105; cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 11: AAS 57 (1965) 16.
(2) - O CAMINHO RETO – Obrigação de vários estados. Pág. 53
















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