O REI E A CAMPONESA - de Søren Kierkegaard
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“Era uma vez um rei, que amava uma donzela camponesa.
Esse rei era como nenhum outro rei! Todos os seus ministros tremiam diante do seu poder. Ninguém se atrevia a contrariá-lo, pois ele tinha força para esmagar todos os seus oponentes.
E ainda assim, este poderoso rei derreteu-se de amor por uma humilde moça de uma pobre vila do seu reino. Como poderia ele declarar-lhe o seu amor? Por estranho que parecesse, a sua coroa amarrava-lhe as mãos. Se ele levasse a donzela para o palácio e coroasse a sua cabeça com jóias, e a vestisse como princesa, ela certamente não resistiria - ninguém ousava resistir a ele. Mas será que ela o amaria?
Ela diria que sim, que o amava, é claro, mas seria verdade? Ou viveria ela com medo, alimentando secretamente uma mágoa pela vida que deixou para trás? Poderia ela ser feliz ao seu lado? Como poderia o rei ter a certeza?
Se ele avançasse floresta a dentro na sua carruagem real, escoltado pela sua guarda e ostentando as suas bandeiras flamejantes, também assim a constrangeria pelo maravilhamento que lhe causaria.
Ele não queria um súbdito retraído. Ele queria uma amante, um igual. Ele queria que ela esquecesse que ele era um rei e que ela era uma pequena camponesa, e deixassem que o seu amor mutuo ultrapassasse o abismo entre eles. Pois é só no amor que os desiguais podem ser feitos iguais.
O rei, convencido de que não poderia exaltar a donzela sem esmagar a sua liberdade, resolveu descer ao nível dela. Trajado como um mendigo de capa velha, aproximou-se da sua pequena cabana. Não estava, o rei, apenas disfarçado, mas ele verdadeiramente tinha assumido uma identidade totalmente nova.
Ele tinha renunciado ao seu trono para declarar o seu amor e conquistar o dela.”
Adaptado de “The King and the Maiden” de Søren Kierkegaard
"Deixe que a sua religião tenha menos de teórica e mais de caso amoroso” - G.K. Chesterton