No início, Deus colocou Adão e Eva num Paraíso terrestre. O Jardim do Eden Nesse Jardim, os nossos pais tinham tudo para ser felizes. N...

ANJOS E DEMÓNIOS - 5ª Parte: O novo campo de Batalha e o Pecado Original

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No início, Deus colocou Adão e Eva num Paraíso terrestre. O Jardim do Eden
Nesse Jardim, os nossos pais tinham tudo para ser felizes. Não havia sofrimento e viviam em intimidade com o Senhor, pois não conheciam o Pecado.

Deus havia-lhes dado os chamados dons preternaturais, ou seja, Dons que não faziam parte da sua natureza humana. Entre estavam a:

  • integridade (domínio de si mesmo, sobre suas emoções, imune à concupiscência), 
  • imortalidade (imune à degradação do corpo), 
  • impassibilidade (imune ao sofrimento). 
Isto pois os seus corpos estavam inteiramente submetida à sua própria vontade, já que essa vontade estava totalmente submetida à Vontade Divina do Criador. Não que ela fosse compelida a essa comunhão, mas esta doce rendição não exigia qualquer esforço, pois era-lhes prazerosa como a entrega dos apaixonados. Não havia qualquer inclinação para o “eu” antes do dia em que o Iníquo espírito se aproximou. 

Para que o amor dos homens fosse livre, também para eles era preciso haver uma escolha, uma prova, uma escolha pessoal pelo Bem. Essa prova foi ilustrada pelo autor sagrado como um fruto proibido.  


"E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente,
Mas da árvore da Ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." (Génesis 2:16,17)

Sobre esta importante matéria, ensina-nos São Tomás de Aquino (1):


"Era proibido comer do fruto desta árvore, não porque ela fosse má em si mesma, mas porque, ao menos nesta pequena matéria, o homem devia ter algum preceito a observar pela única razão de que isso fora comandado por Deus.( ...) A árvore era chamada de "a árvore do conhecimento do bem e do mal",  não porque ela tinha poder de causar o conhecimento, mas por causa do efeito: ao comer dessa árvore, o homem aprendeu pela experiência a diferença entre o bem da obediência e o mal da desobediência".


A prova dos nossos primeiros pais era, portanto, esta: Ser humildes e obedientes, confiando no Criador, que sabe o que é bom e o que é mau para nós. E esse é o primeiríssimo grau da humildade.

No entanto, aquele espírito imundo que fora expulso do Paraíso, Satanás, por misteriosa permissão de Deus, foi-lhe concedido tentar o homem a pecar. 


“A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam", diz o Catecismo da Igreja Católica em seu número 395. 


É claro que Deus poderia ter fechado aos demónios a porta de acesso ao homem e o motivo pelo qual não o fez constitui um enigma, sobretudo quando se vê na oração do Pai-Nosso uma alusão clara à tentação, o que indica que Deus permite ação diabólica, mas que cabe ao homem não sucumbir a ela. 


Trata-se de um mistério da Sabedoria e Providência divina no qual devemos humildemente confiar, e acreditar que este caminho de luta é permitido para o nosso próprio bem, pois "Deus não permitiria o mal se não soubesse tirar dele um bem maior”, lembra-nos Santo Agostinho. 


Ora, certo dia, aproximando-se como uma serpente de astúcia maligna, Satanás sibilou ao ouvido de Eva. 
"É verdade que Deus disse que não deveis comer dos frutos de qualquer árvore do jardim?" (Gn 3, 2)." 

Nesta simples pergunta, o tentador oculta uma perigosa insinuação, como se dissesse: "É possível que Deus tenha-vos proibido de comer de qualquer árvore? Por que haveria Ele de os teria criado se não fossem para ser apreciados? Esconderá alguma coisa? "

Responde-lhe a mulher:
"Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais."(Gn 3, 3)

Aproveitando o momento, aquele que é o pai da Mentira (Jo 8,44), coloca a desconfiança no coração de Eva: 
"Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." 

Não satisfeita em chamar o Criador de mentiroso, a serpente imputa a Deus uma malícia narcisista, insinuando estar Ele empenhado em manter as coisas boas da Sua criação só para Si. 

Como é seu costume, o diabo manipula a verdade para facilitar a sua mentira. É verdade que seus olhos abrir-se-ão para coisas que não haviam concebido anteriormente. Entretanto, eles não se tornarão Deus (Elohim), mas sim "deuses" ou "juizes" (elohim), na medida em que, como dizia Santo Tomás na citação feita anteriormente, tornam-se capazes de, pela experiência, conhecer o bem e o mal. Mas conhecer o bem e o mal não  vale de nada de não formos capazes de discernir a diferença e escolher fazer o bem. 


Note-se ainda como Satanás sugere astutamente que tal poder viria do ato humano de desobediência e da própria árvore. Isso é, por implicação, idolatria e superstição, por considerar que tal poder pode ser obtido pelas nossas próprias forças e que uma árvore inanimada poderia ser a fonte de tal poder. 


Apresentando o fruto da árvore à mulher, ela “viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para obter conhecimento" Gn 3, 6. Estas três realidades – “comer", “atraente para os olhos" e “desejável para obter conhecimento" – perpassam toda a história da humanidade: representam a tendência do homem para o PRAZER, para o TER e para o PODER, que são as 3 raízes do pecado.

Em última análise, a pergunta feita pelo diabo procura induzir Adão e Eva a buscar a independência de Deus. Tragicamente, eles estavam cada vez mais convencidos dos benefícios percebidos da auto-deificação. O mundo está cheio dessa mesma ideologia hoje como resultado deste primeiro ato de pecado.

Deus criou o homem para que ele se realizasse participando da Sua divindade, mas ele deveria sê-lo pela graça, não por suas próprias forças.

Porém, os nosso pais desobedeceram, acreditando na mentira de que o poderiam ser por suas forças. Eva comeu do fruto e deu-o a comer a Adão. E o pecado entrou no mundo. 

Ao procurar ser deusa, Eva, cujo nome significa "vida", comprou a morte para si mesma. 
"(Eva) tomou o fruto, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente." (Gn 3, 7). 

Esta passagem dá a entender que Adão estaria ao lado de Eva, ouvindo todo o diálogo. Se assim foi, ele falhou miseravelmente no seu papel de esposo e advogado de Eva. Ele poderia ter interrompido a qualquer momento e esclarecido as instruções exatas de Deus como ele as ouviu, mas não o fez. Embora ficar em silêncio em certas situações seja admirável, permanecer em silêncio diante do mal é desprezível. 
Adão não foi enganado por Eva, mas enganado COM ela.

O homem, criado originalmente com uma perfeita harmonia interna, viu-se reduzido à condição de escravo do pecado. Pelo rompimento com a união íntima com a Vontade de Deus, foram expulsos do Éden paradisíaco, isto é, perderam os Dons preternaturais e a santidade original. 

A perda da integridade, a imunidade à concupiscência, que tornou difícil ao homem e à mulher olharem-se mutuamente não como objetos de prazer egoísta e ou na óptica da utilidade, mas como pessoas a amar. Por isso, a primeira reação dos nossos primeiros pais foi cobrir-se de folhas pois "perceberam que estavam nús". Gn 3,7.

A Morte e o Sofrimento entraram no mundo, como castigos colocados por Deus, não como uma punição vingativa, mas como um castigo corretivo de um Pai amoroso que deseja a salvação eterna dos filhos. Qual é o pai que, castigando o filho, não tem em vista o seu bem?

Assim, para produzir no homem o medo da morte eterna da alma (aquela terrível morte na qual se encontra o diabo e seus demónios), a morte física paira constante e ameaçadoramente sobre a sua cabeça, para lembrá-lo de que não pertence a este mundo, mas que deve aspirar a uma vida plena em Deus seu Criador.

Um castigo medicinal para o homem, que encontrará na morte e no sofrimento um remédio para a soberba e uma forma de libertar-se dos afetos a este mundo transitório.

“A doutrina cristã sobre o sofrimento explica, eu acho, um fato muito curioso sobre o mundo em que vivemos. A felicidade e a segurança que todos desejamos, é-nos negada por Deus pela própria natureza do mundo; sem, no entanto, deixar de espalhar ao longo da vida algumas alegrias, prazeres e satisfações  ... Porque a segurança que almejamos nos levaria a pousar os nossos corações neste mundo e colocaria um obstáculo ao nosso retorno a Deus ... Nosso Pai refresca a nossa caminhada com algumas pousadas agradáveis, mas não quer que as confundamos com o Lar." 
C.S. Lewis em "O Problema da Dor"

Deus não desejava que tivéssemos caído, mas nem diante da traição, Deus nos abandonou à desgraça. No mesmo instante, o plano da Redenção iniciava-se:

"Porei inimizade entre ti (Serpente) e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." (Gn 3,15)

O novo campo de batalha estava pronto, e a luta entre a luz e as trevas prossegue no MUNDO. 

Existe, portanto, uma área da criação que foi entregue por Deus aos demónios para que pudessem agir. Como, e até que ponto podem (anjos e demónios) interferir nas nossas vidas, é o que procurarei explorar nas próximas parte.


Deus Vult!


(1) COMPENDIUM THEOLOGIAE, Cap. 188.

Site de interesse: https://www.bethmelekh.com/yaakovs-commentary---15081497151214931513-1497150615111489/genesis-3-the-serpent-the-fall-of-humanity-the-fierce-love-of-g-d


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