3ª Parte: A Era dos Anjos - Deus é aquele que É (Ex.3, 14). Ele é a fonte de todo o "ser", o seu princípio e fim. Sendo...

ANJOS E DEMÓNIOS - 3ª Parte: A Era dos Anjos e a primeira Rebelião

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3ª Parte: A Era dos Anjos

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Deus é aquele que É (Ex.3, 14). Ele é a fonte de todo o "ser", o seu princípio e fim. Sendo infinito, intangível e sumamente perfeito, não carece de nada, bastando-se a Si mesmo. No entanto, Deus é amor, e no Seu amor transbordante, Aquele que “É” quis dar ser e trazer à existências criaturas à Sua imagem e semelhança, para as poder amar e por elas ser amado, fazendo-as participantes da Sua Eterna Felicidade. As primeiras e mais nobres criaturas criadas por Deus foram os Anjos. Em incontáveis miríades, de magnífica diversidade e perfeita hierarquia, cada um desses seres espirituais era capazes de refletir algo da Luz divina de maneira única, para a transmitir aos outros e dar a conhecer a Perfeição e Bondade do seu Senhor. Todos eles foram criados na graça, foram criados bons, mas não no Paraíso, isto é, na Visão beatífica de Deus. Se assim fosse, a Face Divina forçaria, irresistivelmente, a que todos os anjos o adorassem. Mas isso não seria amor. Deus não quer escravos, mas filhos, seres capazes do amor. E o amor exige uma escolha livre. Por isso, para que Deus pudesse por eles ser amado, era necessário que a Sua Face lhes fosse oculta, e só os Seus reflexos - i.e. a graça de Deus - eram capazes de alimentar o ardente desejo dos coros celestes. Tudo isto poderíamos dizer também da condição humana. As Sagradas escrituras expressam isso frequentemente com expressões como:

“Não poderás ver a minha face, porque o ser humano não pode ver-me e permanecer vivo!”(Ex.33,20)


Também nós vivemos, hoje, uma condição àquela doa anjos. Deus esconde-se para que o possamos procurar e livremente amar. No entanto, a natureza angélica, sendo puramente espiritual, não atinge a perfeita caridade por passos progressivos como nós. Aos anjos era preciso um único ato de caridade em resposta à Sua graça, amando a Deus livremente , para atingirem a perfeição da caridade, merecerem a Glória Celeste e imediatamente nela serem admitidos. (1) Só uma criatura racional - aquelas com intelecto e vontade - pode amar. Da mesma forma, só uma criatura racional pode pecar. Por isso, enquanto não fossem admitidos na Glória, os anjos podiam pecar. E de facto, alguns pecaram, e por um só pecado se condenaram. No entanto, como é possível que criaturas dotadas de dons tão superiores aos dos homens, viessem a pecar? Se os brilhantes anjos não sofrem de confusão, por que motivo haveriam de se rebelar contra Deus, o Sumo Bem, e escolher a perdição eterna?

Todos os anjos foram criados bons, e cada um tão único e distinto como se fosse o único ser da sua própria espécie. (2) A tanta diversidade, Deus quis dar um ápice, um ponto monárquico, um ser que espelhasse de modo inigualável a luz eterna e inextinguível.

“Tu és o selo da semelhança de Deus, cheio de sabedoria e perfeito na beleza; tu vivias nas delícias do paraíso de Deus e tudo foi empregado em realçar a tua formosura!” (cf. Ez 28, 12-13).
Sendo o primeiro dos anjos, iluminava todos os espíritos com os reflexos da divindade que a sua inteligência ímpar discernia com o auxílio da graça. Por isso, Lúcifer era seu nome, que significa "'o que traz luz". Ora, antes de poderem contemplar a Deus por toda a eternidade, todos os anjos tinham de passar por uma prova. Mas, como vimos, se os anjos eram bons e sábios, por que motivo haveriam de se rebelar e escolher a perdição? Como os anjos não têm corpo, de entre os 7 pecados mortais, só poderiam pecar por soberba ou inveja. Já quanto ao tipo de prova a que foram submetidos, apenas podemos especular. Santo Tomás de Aquino, Tertuliano, São Cipriano, São Basílio, São Bernardo e outros santos, sugerem que a prova decisiva a que foram sujeitos os espíritos celestiais foi o anúncio da Encarnação do Verbo, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, o qual haveria de nascer de uma Virgem. Podemos imaginar o assombro que percorreu as fileiras das milícias celestes ao conhecerem intuitivamente o plano da Salvação: o Criador Intangível e omnipotente, unir-se-ia hipostaticamente a uma natureza inferior à angélica, a natureza humana, elevando-a assim até o trono do Altíssimo; e uma mulher, a Mãe de Deus, tornar-se-ia medianeira de todas as graças, seria exaltada a cima dos coros celestes e coroada Rainha do universo! Quer tenha sido esta a prova ou não, algo inexplicável surgia diante dos anjos! Amar sem compreender! Reconhecer, num supremo lance de adoração e obediência, a superioridade infinita da Sabedoria Divina seria o ato que confirmaria os espíritos angélicos na graça e os introduziria na visão beatífica. Lúcifer, porém, duvidou, diante de um mistério que ultrapassava seu angélico entendimento. Tal plano teria sido encarado por ele como um atentado ao seu orgulho. Ele, o mais alto dos espíritos angélicos, seria obrigado a adorar um homem? Tão escandaloso como se Deus nos dissesse a nós humanos para O adorarmos num animal, ou pior, num objeto inanimado … como um pedaço de pão por exemplo?… (3). “Esta união hipostática do homem com o Verbo pareceu-lhe intolerável e desejou que fosse realizada com ele”, sugere Cornélio a Lápide (4).

Só a ele mesmo, Lúcifer, “o perfeito desde o dia da criação” (Ez 28, 15), deveria Deus unir-Se e deste modo constituí-lo como o mediador único e necessário entre o Criador e as criaturas. Incitando outros anjos à rebelião contra Deus, por meio de mentiras contra o Amor e Bondade Divina, o Anjo Rebelde fez-se ouvir, naquele que foi o primeiro grito de revolta da história da criação:
“Não servirei! Subirei até o Céu, estabelecerei o meu trono acima dos astros de Deus, sentar-me-ei sobre o monte da aliança! Serei semelhante ao Altíssimo!” (cf. Is 14,13-14).

Assim, “aquele que do nada havia sido feito anjo, comparando-se, cheio de soberba, com o seu Criador, pretendeu roubar o que era próprio do Filho de Deus”, conclui São Bernardo (5). “O anjo pecou querendo ser como Deus” (6) e o príncipe da luz tornou- se trevas.
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Todo o ato de desobediência a Deus é a procura de um bem fora d'Ele. É a procura da sua auto-realização, do sentido do seu ser, fora de Deus. Porém, isto corrompe a própria natureza das criaturas, porque nós fomos feitos por Deus e Para Deus. Deus é o sumo Bem, o sentido de todas as coisas, e todo o Bem que existe reside n’Ele, porque “só Deus é Bom” (Mc 10,18). Não é que Deus seja um déspota, opressor e castigador de quem quiser procurar a felicidade longe d’Ele. Esta é a mentira, a mentira de Satanás! Deus não pode dar-nos uma felicidade ou paz fora d’Ele porque tal não existe! E todo o drama, humano e angélico, resulta em querer procurar algum bem fora de Deus. Que São Miguel nos ajude a fazer sempre a Vontade de Deus!


Deus Vult!

Fontes:
(1) Suma Teológica I, q. 52, a. 5. (2) Suma Teológica I, q. 50, a. 4. (3) Nota do autor: A Fé Católica na Transubstanciação significa que, depois da consagração, a substância do pão e do vinho já não estão mais presentes, mas tão somente a substância do santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, embora permaneçam as aparências do pão e do vinho. A heresia da Consubstanciação, na qual se alega a união das substâncias do Corpo e do Sangue de Cristo, com a substância do pão e do vinho, deve ser completamente deplorada. (4) A. Bernet, Enquête sur les Anges, Librairie Académique Perrin, 1997, p. 43. (5) Obras Completas, BAC, Madrid, 1953, vol. 1, p. 215. (6) Suma Teológica I, q. 65, a. 5.




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