UMA IGREJA, UMA ÁRVORE E A PROTESTANTIZAÇÃO DA LITURGIA- Carta de J.R.R.Tolkien
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Carta de J.R.R.Tolkien sobre os perigos do Aggiornamento e do Ecumenismo
Desde cedo, Tolkien, o escritor do “Senhor dos Anéis”, sendo doutorado em Letras e Filosofia, mostrou-se muito perturbado pelas alterações ao rito da Missa. É caricato e conhecido o comentário que o seu neto Simon fez dos momentos em que ia com o avô à Missa:
“Ele era um católico romano devoto e isto foi logo depois da
Igreja ter mudado a liturgia do latim para o inglês. O meu avô, obviamente, não
concordou com a medida e dava todas as respostas em voz alta em latim, enquanto
o resto da congregação respondia em inglês. Achei toda a experiência bastante
torturante, mas meu avô estava na dele. Ele simplesmente tinha que fazer o que
acreditava estar certo ... "
Numa carta a seu filho Michael, datada de 25 de agosto de 1967, Tolkien refere,
especificamente, o assunto da nova Missa. Nessa carta, o Professor explica, de
forma muito lúcida, os perigos a que a Igreja se submeteu, sacrificando a sua
tradição litúrgica em nome de um revisionismo e de uma pastoral ecuménica muito
pouco católicos:
“Eu bem sei que, tanto para ti como para mim, a Igreja que
antes parecia um refúgio, agora, muitas vezes, parece uma armadilha. Porque não
há mais para onde ir!
(Pergunto-me se os discípulos de Nosso Senhor não terão sentido este desespero, este último estado de lealdade que nos sobra, com
maior frequência do que aquela registada nos Evangelhos). Acho que não podemos
fazer outra coisa se não rezar, pela Igreja, pelo Vigário de Cristo, e por nós
próprios; e, enquanto isso, exercer a virtude da lealdade, que, de fato, só se
torna uma virtude quando somos tentados a abandoná-la (a Igreja).
A busca "protestante" pelo que é "simples", pelo que está para trás e pelo que vem de “linha direta” - algo que, em si mesmo, tem obviamente motivos razoáveis ou, pelo menos, inteligíveis - é uma busca equivocada e, de facto, vã. Isto porque, apesar de toda a 'pesquisa' que se possa fazer, o 'cristianismo primitivo' é, e continuará a ser, largamente desconhecido. A 'primitividade' não é garantia de valor, para além de ser, e de ter sido em grande parte, o reflexo da ignorância.
Tanto agora como naquele tempo, graves abusos fizeram parte do comportamento litúrgico cristão. (As cartas de São Paulo sobre a conduta de alguns durante a Eucaristia são suficientes para provar isto!). Além disso, Nosso Senhor não pretendia que a Sua Igreja fosse estática ou permanecer em perpétua infância; mas sim que fosse como um organismo vivo (comparável a uma planta), e que se desenvolvesse e mudasse externamente em resultado da interação entre a vida divina que recebeu e as circunstâncias históricas em que se encontrasse.
Entre a “semente de mostarda” e a árvore adulta, não restam
semelhança alguma.
Para aqueles que viveram nos seus dias de ramificação, a Árvore
é o objetivo, pois a história de uma coisa viva é parte integrante da sua vida,
e a história de uma coisa divina é sagrada.
O sábio até pode saber que a árvore começou por ser uma
semente, mas é inútil tentar desenterrá-la, pois ela já não mais existe, e a
virtude e os poderes que tinha, agora residem na Árvore. Aqueles que agora tomam
conta da Árvore, os seus guardiões e agricultores, têm agora o dever de cuidar
dela, de acordo com a sabedoria que possuem, podando-a, removendo quaisquer
cancros, livrando-se dos parasitas e assim por diante.
Certamente terão os seus altos e baixos, conscientes do quão pouco sabem sobre o seu crescimento. Mas também certamente farão um grande mal à Árvore se estiverem obcecados com o desejo de voltar à semente ou mesmo de voltar àquilo que, na sua ilusão, seria um belo e imaculado primeiro broto."
(Tradução própria)
Deus Vult!
Deus Vult!