Em muitas cidades, pequenas ou grandes, antigas ou novas, os sinos ressoam de hora em hora nos campanários das igrejas ou das catedrais. À...

O PODER ESPIRITUAL DOS SINOS CATÓLICOS - Por Mons. Jean-Joseph Gaume

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Em muitas cidades, pequenas ou grandes, antigas ou novas, os sinos ressoam de hora em hora nos campanários das igrejas ou das catedrais. Às vezes é difícil ouvi-los na agitação cidades, mas, nas localidades do interior, os sinos ainda podem ser ouvidos até mesmo a quilómetros.

Eles existem desde o século V e foram de vasto uso na Idade Média, como forma de ordenar o dia, alertando para as horas e convocando as pessoas à oração e aos seus deveres de estado. 

Mas, além dessas funções “práticas”, os sinos das igrejas também têm um grande poder espiritual. Quando um novo sino é instalado em uma igreja, ele é tradicionalmente abençoado pelo bispo ou pelo pároco. Antigamente, a cerimónia da bênção do sino espelhava a do batismo, e a atual cerimónia ainda exige o uso da água benta. 

Escreve Mons. Jean-Joseph Gaume (1802-1879), teólogo de renome, sobre a bênção dos Sinos:

“Como todas as coisas grandiosas e belas, é à Igreja que devemos o sino. 

O sino nasceu católico, por isso a Igreja o ama como a mãe ama seu filho. Ela benze o metal de que é feito. Logo que ele veio ao mundo, a Igreja o batizou e fez dele um ente sagrado.

Com razão, porque o sino é destinado a cantar tudo o que há de santo e de santificante na Terra e no Céu. Pelas orações e cerimónias que o acompanham, o batismo vai dizer-lhe a sua vocação.

A Igreja sempre considerou com muito respeito o sino, o que se constata com o esplendor nas preces e nas cerimónias de seu batismo.

Reunidos os fiéis em torno do sino suspenso a alguns metros acima do solo, chega majestosamente o bispo em hábitos pontificais, acompanhado do clero e seguido do padrinho e da madrinha do sino.

Em nome de Deus, de quem é ministro, o bispo invoca sobre essa maravilhosa criatura a virtude do Espírito Santo, tornando-a fecunda no primeiro dia de sua criação.

Certo de ser atendido, o bispo asperge o sino com água benta, conferindo-lhe o poder e o dever de afastar de todos os lugares onde seu som repercutir, as potências inimigas do homem e de seus bens: demónios, tornados, raios, granizo, animais nocivos, tempestades e todos os espíritos de destruição.

Vejamos sua missão positiva.

A sua voz proclamará os grandes mistérios do cristianismo, aumentará a devoção dos cristãos para cantarem novos cânticos na assembleia dos santos, e convidará os anjos a tomarem parte nos seus concertos. O sino fará tudo isto, porque esta missão lhe é confiada em nome d’Aquele que possui todo o poder no Céu e na Terra.

Cada badalada faz retinir ao longe os dois mistérios da morte e da vida — alfa e ômega — necessários para orientar a vida do homem e consolar suas esperanças.

Não admira, pois, que o bispo, dirigindo-se ao próprio sino, o dedique a um santo ou a uma santa do Paraíso dizendo-lhe, com uma espécie de respeitosa ternura: “Em honra de São N., a paz doravante esteja contigo, caro sino”.

Como o sino deve ter um nome, cumpre que tenha também um padrinho e uma madrinha. O nome do sino é gravado abaixo da cruz em relevo, que o marca com o selo de Nosso Senhor e o consagra ao seu alto culto.

Daí vem um fato pouco notado: o amor dos verdadeiros filhos da Igreja ao sino e o ódio que lhe votam os inimigos de Deus. Uma das mais doces alegrias de nossos pais, ao se libertarem da Revolução Francesa, foi ouvir os sinos, emudecidos durante muitos anos.

Esse incontestável poder do sino contra os demónios do ar justifica as virtudes de que ele goza: dissipar os ventos e as nuvens, afugentar diante de si o granizo e o raio, conjurar as tempestades e os elementos desencadeados, pois que todas essas perniciosas influências da atmosfera provêm muito menos de coisas naturais do que da maldade desses espíritos maléficos.

Nossos pais, na hora do perigo, faziam ouvir pelo Pai Celeste o som dos sinos, seu primeiro grito de alarme. O Senhor não permanecia muito tempo insensível à voz de seu povo.

A corda que serve para tocar o sino, que sobe e desce sem cessar, indica o trabalho do pregador, e é também uma imagem da nossa vida”

 (Mons. Gaume, L’Angelus au dix-neuvième siècle, Editions Saint-Remi, 2005).

Por isso, irmãos, a próxima vez que ouvirmos um sino de igreja ressoar, rejubile o nosso coração, louvemos a Deus pelas suas graças, unamo-nos aos anjos em oração e lembremo-nos do poder espiritual desse belo e abençoado símbolo Católico.

Deus Vult!



PS:

“É conveniente que haja em cada igreja um ou mais sinos para convocar
os fiéis aos ofícios divinos e outros religiosos. E estes sinos das igrejas
devem ser consagrados ou benzidos segundo os ritos que se encontram
nos livros litúrgicos aprovados”
(Codex Iuris Canonicis, cânon 1169 § 1 e 
2 e Pontifical Romano)

O Ritual Romano apresenta uma bênção solene aos sinos das igrejas e explica o simbolismo e o poder espiritual que eles passam a ter quando abençoados.

Uma parte do rito da bênção diz:

"Ó Deus, que pelo bem-aventurado Moisés, Vosso servo, pelo qual promulgastes a lei, mandastes fazer trombetas de prata para que, tocando-as os Sacerdotes no tempo do sacrifício, o povo, avisado pelo seu som melodioso, se preparasse para Vos adorar e se reunisse para Vos oferecer os sacrifícios; para que, excitado para a guerra pelo som delas, prostrasse as forças dos inimigos; nós Vos pedimos que façais com que este vaso, preparado para a Vossa santa Igreja, seja santificado pelo Espírito Santo, para que os fiéis pelo seu toque sejam convidados para o prémio.

E, quando aos ouvidos dos povos ressoar a sua melodia, aumente neles a devoção da fé; sejam repelidas para longe todas as ciladas do inimigo, o fragor do granizo, os perigos dos turbilhões, a impetuosidade das tempestades; abrandem-se os trovões destruidores; que o sopro dos ventos se torne saudável e moderado; e que a Vossa mão poderosa destrua as forças aéreas para que, ouvindo este sino, se encham de pavor e fujam diante do estandarte nele traçado da Santa Cruz do Vosso Filho, ao qual se dobra todo o joelho no céu, na terra e no inferno e toda a língua proclama que o mesmo nosso Senhor Jesus Cristo, tendo destruído a morte no madeiro da Cruz, reina glória de Deus Pai, com o mesmo Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém."

Antes ainda, outra prece do rito, dirigida a Cristo, pede:

"Derramai, Senhor, sobre esta água a bênção celeste e fazei descer sobre ela a virtude do Espírito Santo, para que, tendo sido rociado com ela este vaso, destinado a convocar os filhos da Santa Igreja, dos lugares onde ressoar este sino, se afaste para longe a virtude das ciladas dos inimigos, a sombra dos fantasmas, a violência dos turbilhões, os golpes dos raios, os estragos das trovoadas, os desastres das tempestades e todos os espíritos das procelas; e, ao ouvirem a sua voz os filhos dos cristãos, aumente intensamente a devoção para que, correndo para o grêmio da sua piedosa mãe, a Santa Igreja, vos cantem na assembleia dos Santos um cântico novo, que reproduza o som vibrante da trombeta, a melodia do saltério, a suavidade do órgão, a exultação do tambor, a alegria do címbalo, para que, no templo santo da Vossa glória possam com suas homenagens e preces convidar a multidão do exército dos Anjos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que Convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo de Deus, por todos os séculos dos séculos."


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