O Sacramento da Reconciliação (ou confissão) é um Sacramento de cura. Quando me confesso procuro curar a desordem provocada, em ...

COMO BEM SE CONFESSAR

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O Sacramento da Reconciliação (ou confissão) é um Sacramento de cura. Quando me confesso procuro curar a desordem provocada, em mim e no mundo, por causa dos meus pecados. 

Esta é uma graça imensa de Deus, pelo que é importante refletir seriamente na forma como o recebemos (ou administramos). Para se bem confessar é preciso três coisas: a Contrição, a Confissão e a Satisfação

Mas vamos por passos.

1º Examinar a consciência: A contrição é a dor pelo pecado cometido. Para isso, é preciso  examinarmos o nosso coração e ter a humildade para acusar-se a si mesmo, reconhecer as suas fraquezas, limitações e falhas. Para avaliar a consciência há leis! Não é uma mera opinião sobre o que é certo e errado. A nossa consciência deve-se deixar robustecer e iluminar pela Lei de Deus, transmitida pela Sua Santa Igreja, no seu ministério sagrado e pela boca dos santos. Este exercício de auto conhecimento e conhecimento da vontade de Deus é trabalho de uma vida inteira,e a ignorância voluntária (o fugir do exame de consciência, da procura da Verdade e da Lei de Deus) é um crime contra nós próprios, pois a busca da Verdade é um dever de todos.


2º Arrependimento sincero dos pecados (contrição): O passo mais importante. Depois de tomar consciência dos pecados, seremos capazes de sinceramente dizer "Detesto o que fiz",  “Se voltasse atrás, não o teria feito”, "Não quero pecar outra vez"? 
O arrependimento implica a contrição, que compreende uma dor da alma e detestação do pecado cometido, e um propósito firme em não tornar a pecar no futuro. (CIC n.º1451)
Todos os sacramentos têm uma matéria, isto é, algo por meio do qual é possível realizar o Sacramento (o batismo é a água, a Eucaristia é o pão e vinho, a Unção é o óleo). No sacramento da Confissão/reconciliação, a matéria (dita "remota") é o pecado e a matéria (dita "próxima") é o arrependimento. Por isso, sem a apresentação de pecados ou arrependimento o Sacramento não tem validade. Não tem efeito! E recebê-lo obstinado no pecado é até sacrilégio!

O motivo pelo qual nos arrependemos também é importante: não pode ser por qualquer coisa natural – por uma doença física ou pela vergonha diante dos homens, por exemplo –, mas por uma aflição de origem sobrenatural: arrependendo-se ou porque perdeu o Céu e mereceu as penas eternas do inferno (contrição imperfeita ou atrição) ou porque, tomando consciência do amor de Deus, percebe o quão ingrato foi ofendendo-O e rompendo a relação com Ele, o sumo Bem (contrição perfeita).
É verdade que a contrição perfeita é mais difícil do que a atrição, por causa da nossa debilidade humana.
Antes de Jesus Cristo, os nossos antepassados, apenas pela contrição perfeita poderiam alcançar o perdão dos pecados. E ainda hoje, milhões e milhões de pagãos e hereges, afastados da verdadeira fé como estão, somente  pela contrição perfeita poderão obter o perdão dos seus pecados. Por isso meditemos bem na grande graça que nos chegou por Jesus Cristo pelo sacramento, pois tanto a atrição quanto a contrição perfeita são válidas como matéria de arrependimento para o sacramento da reconciliação!

Porém, quem quer que deseje amar a Deus verdadeiramente, não se deve contentar com a atrição do coração. Antes, deve por todo o seu empenho em intensificar a contrição nascida do amor a Deus, embora bem persuadida de que esta graça da perfeita e intensa contrição é um dom de Deus que só se pode conseguida por meio da oração.

É tão grande a importância dessa disposição interior que São Tomás de Aquino adverte ser tanto maior a graça que se alcança após a absolvição quanto mais intensa for a contrição forjada pelo penitente. 
Pela contrição ".. o penitente se levanta às vezes com maior graça do que tinha antes; às vezes, com igual; e, às vezes, com menor", diz o Doutro Angélico. Isto é, quanto mais perfeito for o nosso arrependimento, maior será o nosso "balde" para receber a graça do sacramento!
Por isso é de grande importância procurar a máxima intensidade possível no arrependimento e na contrição para conseguir recuperar o mesmo grau de graça ou quiçá um maior do que o que se possuía antes do pecado.
Não devemos confundir, no entanto, esta contrição com um sentimento, com uma expressão física de comoção ou de dor. Não são precisos suspiros, lágrimas ou soluços. Tudo isso pode até ser sinal de contrição, mas não é a sua essência. A essência da contrição está na alma, na vontade, em afastar-se deveras do pecado e converter-se para Deus. 
Além da contrição de coração, é importante repetir que o arrependimento implica também o propósito firme em não tornar a pecar no futuro, o que exige uma resolução forte em lutar para corrigir a desordem que o pecado causou em nós, crescendo em virtude. Faltar com esse propósito acaba por invalidar a absolvição. Afinal, se a pessoa se acusa ao sacerdote mas não está disposta a renunciar ao pecado, deixando de cometê-lo, qual o sentido de seu arrependimento? 


3º Confessar verbalmente os pecados: para muitos, este talvez seja até o passo mais complicado. Mas assim determinou Nosso Senhor que se fizesse (João 20:23). Os porquê não dissertarei sobre eles agora, mas para bem confessar é imprescindível que:

  • Verbalizemos, pelo menos, os pecado graves;
  • O seu número (tão próximo quanto conseguirmos), 
  • A sua espécie: deve-se declarar que pecado foi, pois não basta dizer: pequei gravemente, nem: pequei gravemente contra a castidade, sem explicar de que se tratou. (seria o mesmo que chegar ao médico e dizer "ai dói-me". Como iria o médico saber que remédio usar?); 
  • E as circunstância que possam ser agravantes (um exemplo simples: roubar é pecado, mas roubar a um pobre torna-o mais grave) (CDC no cânon 987).
Nesse momento, fica de sobre aviso! Porque o demónio fará de tudo para que, por vergonha, ocultemos algum pecado ou agravantes. A vergonha de nossos pecados é salutar quando nos leva ao arrependimento e desejo de ser melhor, mas é fruto do orgulho se nos impede de bem confessar. Devemos expor tudo como crianças, e vendo no sacerdote o próprio Cristo, sem deixar a vergonha nos calar. Devemos evitar detalhes irrelevantes, mas ser claros e precisos precisamos especificar que tipo de  

Algumas notas importantes: se nos esquecermos honestamente de confessar algum pecado, e só lembrarmos dele depois da confissão, podemos estar certos do perdão desse pecado também, mas devemos confessá-lo logo que tenhamos oportunidade. (Catecismo de São Pio X, n.º 751).
O mesmo acontece se, por falha de memória sincera, simplesmente já não nos lembramos de ter cometido certos pecados. Vejamos: O que interessa é ter uma atitude humilde de "se eu me lembrasse,  confessá-lo-ia logo".
O mesmo NÃO acontece se, propositadamente, por vergonha ou obstinação em algum pecado grave, ocultamo-lo do sacerdote. O arrependimento dos pecados deve ser uma atitude integral, constituindo sacrilégio (outro pecado grave) a ocultação propositada de pecados graves no sacramento da reconciliação. Outro sacrilégio seria mentir, pedindo perdão por pecados graves não cometidos (Catecismo de São Pio X, n.º 753).

Ainda outra nota importante, que pessoalmente foi bastante interessante: Por vezes podemos não ter a certeza se pecámos gravemente. Quando não se tem certeza sobre se realmente se pecou ou não, deve confessá-lo na mesma, referindo essa dúvida. Além disso, o penitente deve, necessariamente, apresentar outras faltas, ou, se não as tiver, alguma falta antiga, mesmo que já a tenha confessado, para que a confissão se torne válida. Isso porque a confissão de um ato qualquer sobre o qual não se assegura a consumação do pecado não constitui matéria para o sacramento (como foi explicado anteriormente no 2º ponto). Um rapaz que não sabe se consentiu ou não na moção de desejar a mulher do vizinho não pode confessar apenas essa dúvida. 

Confessar pecados já confessados é permitido porque o mais importante na confissão é o aumento da graça santificante. Quando nos confessamos recebemos a graça de Deus em nosso coração, que, por sua vez, nos livra das feridas do pecado. Repetir, pois, um pecado já confessado pode ser uma atitude de piedade para com Deus. Tenhamos cuidado, porém, em discernir se o fazemos por devoção ou motivados por escrúpulos, isto é, por falta de confiança no sacraamento (achando que o pecado ainda não "está perdoado o suficiente").




Além das disposições que acima temos referido, devemos aproximarmo-nos deste sacramento com fé, esperança e amor a Deus.

  • na eficácia deste Sacramento, pois que, embora não necessitando, Deus quis que precisássemos dos Seus sacerdotes como ministros da Sua misericórdia. Embora sejam apenas homens, pecadores como nós, é Deus quem, por meio deles, nos perdoa. Este é um mistério que não podemos compreender totalmente, mas podemos facilmente reconhecer e saborear a Sabedoria divina, que deseja que precisemos uns dos outros para a obtenção da Sua graça.
  • Esperança de que, estando nas disposições que já referimos, os nossos pecados são apagados. Uma esperança que nos deve encher de alegria e confiança!
  • Amor a Deus, sem o qual não seriamos capazes de nos desapegar do pecado.


4º Cumprir a penitência: Finalmente, devemos cumprir a penitência imposta pelo sacerdote, que é a satisfação sacramental. Pois, embora as nossas faltas sejam plenamente perdoadas já na acusação dos pecados, restam a pena temporal devida pelo pecado e a enfermidade que deve ser remediada pelo confessor. Note que todo o pecado magoa a nossa alma e a de outros, e precisamos corrigir os males que fizemos, por ações, orações e mortificações. 
A penitência deve ser o conveniente remédio para os males confessados. Se, por acaso, o confessor não definir uma penitência, devemos procurar interiormente o remédio adequado à desordem causada pelo nosso pecado (tanto no nosso coração como na sociedade). De qualquer forma, cabe também a nós mesmos verificar se a penitência imposta é suficiente.

Porém, uma nota de confiança: É importante que o fiel cumpra atentamente e o mais depressa possível a penitência imposta pelo sacerdote, já que, diz o Doutor Angélico, "nela opera o poder das chaves, de sorte que tem mais valor para expiar o pecado que se o homem realizasse a mesma obra por seu próprio arbítrio".



Concluindo...
Devemos levar a sério este Sacramento, pois é o Sangue de Cristo que é aspergido sobre nós naquele momento sagrado. Se realmente amamos a Deus, não podemos deixar de temer ofendê-Lo por nos confessarmos mal. 
São Pio de Pietrelcina ajuda-nos a compreender isso mesmo. Ele, que tinha o dom de ler os corações, era capaz de conhecer as disposições das pessoas e saber os pecados antes mesmo que lho dissessem. E se encontrava algum hipócrita, mentiroso ou sem arrependimento, recusava-lhe a absolvição. Alguns destes, por causa da reprimenda severa do santo monge, tomaram consciência da seriedade do Sacramente, caíram em si e converteram-se.
Diz padre Pio, advertindo um sacerdote “Se você soubesse que coisa tremenda é sentar-se no tribunal do confessionário! Estamos administrando o Sangue de Cristo. Devemos ter cuidado para não lançarmos este tesouro por todas as partes por sermos demasiados indulgentes ou negligentes”.


Em jeito de resumo, para bem confessar precisamos de fazer:

  1. Exame de consciência (à luz da Lei de Deus, e desconfiando de nós próprios);
  2. Arrependimento (remorso pelo pecado e firme propósito de não voltar a pecar);
  3. Acusação de (pelo menos) os pecados graves e as circunstâncias agravantes ao sacerdote (com fé e a sinceridade e humildade de uma criança);
  4. Satisfação pelos pecado, isto é, cumprindo, de bom grado, a penitência imposta e procurando emendar-se e crescer em virtude.

Estamos na Quaresma. Tempo propício para a meditação, arrependimento e penitência.
E o sacrifício mais agradável a Deus é um coração contrito, como vemos em Salmos 51:17.

Santo não é aquele que não cai, santo é aquele que mesmo caindo não desiste de se levantar”.
São João Paulo II

Por isso, não deixemos passar a oportunidade. Nunca é tarde demais! Preparemo-nos bem para a Páscoa deste ano pondo os olhos na Páscoa perene, para poderemos viver e alegrarmo-nos com o  nosso amado Senhor! 

Deus Vult!


Nota adicional: no Sacramento, Cristo dá-nos, pela fé, a certeza do Seu perdão! Se isto não bastasse para querermos que todos os povos se fizessem católicos, ainda temos outros 6 Sacramentos, que são instrumentos privilegiados deixados por Cristo para a salvação da humanidade. Eis razão o bastante para nos sentirmos interpelados à evangelização, por amor ao próximo, pensando no bem que poderiam alcançar, convertendo-se.

Sugestão de video complementar:
https://padrepauloricardo.org/episodios/a-ultima-confissao




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