GENEALOGIAS DE JESUS - Contradição?
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As genealogias de Mateus e de Lucas seguem juntas até ao rei David; depois separam-se nos filhos deste, Salomão (Mt 1.6,7) e Natã (Lc 3:31,32). A partir daí, as genealogias tomam rumos diferentes. Mesmo as pessoas que aparecem com nomes iguais a partir daí, referem-se, muito provavelmente, a pessoas com o mesmo nome por coincidência.
Estará a Bíblia a contradizer-se?
Ao se estabelecer as credenciais de alguém que afirmasse ser o Messias, o Ungido de Deus, era muito importante para os judeus poderem remontar a sua genealogia à linhagem real dos reis da casa de Davi. Por isso, ambos os evangelistas dedicam-se a expor a genealogia messiânica, mas de forma diferente.
Em Israel, os nomes das gerações eram registados de duas formas: segundo a natureza ou segundo a lei.
Segundo a natureza, pela sucessão das filiações naturais, assim como fazemos hoje;
Segundo a lei no caso de, por exemplo, alguém gerar filhos sob o nome de um irmão. Quando um irmão deixava uma viúva e não tinha deixado descendência, a lei permitia que o irmão a despojasse, mas os filhos gerados pertenceriam ao defunto.
Desta forma, segundo a Tradição registada por Júlio Africano (séc III), Mateus registar a genealogia do Senhor segundo a Natureza e Lucas segundo a Lei (cf. HE I,7).
Porém, ainda temos o problema de que os evangelistas parecem discordar até quanto ao pai de José. Mateus declara que ele era o filho de Jacó, enquanto Lucas declara que ele era o filho de Heli. Mais uma vez, a “culpa” cai sobre a tradição judaica.
Segundo os estudiosos da área, as mulheres não eram, em geral, contadas em registos genealógicos naquela época. Por essa razão, Lucas poderia correctamente chamar José de “filho de Heli”, embora este fosse de facto seu sogro, pai de Maria. Repare que Heli é uma variante do nome Eliaquim (Joaquim), nome que associamos ao pai da Virgem. Por esta razão, muitos estudiosos defendem que a genealogia apresentada por Lucas é, na verdade, a genealogia de Maria.
Outro facto que suporta esta argumentação vem da Lei de Moisés, segundo a qual, “Todas as mulheres que possuírem um património em uma tribo israelita, tomarão marido na tribo paterna, a fim de que cada israelita conserve o património de família” (Nm 36,8)
Embora o pobre património da Virgem não a obrigasse a casar com alguém da sua tribo, o facto de se casar com alguém pertencente à tribo de Judá (tribo de Davi) é um forte indício de que também ela parecia à mesma tribo.
Ainda um detalhe importante. Tanto Mateus como Lucas indicam que José não era o pai verdadeiro de Jesus, mas apenas seu pai adotivo, que lhe concedeu o direito legal à casa de Davi. E fazem-no muito claramente:
Mateus afasta-se do estilo usado em toda a sua genealogia quando chega a Jesus, dizendo: “…Eleazar gerou a Matã; Matã gerou a Jacó; Jacó gerou José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.” (Mt 1:16) Note que ele não diz que ‘José gerou Jesus’ como até aí, mas que ele era “marido de Maria, da qual nasceu Jesus”.
Lucas é ainda mais incisivo quando diz: “Jesus, que, como se pensava, filho de José, filho de Eli…” (Lucas 3:23). A expressão "como se pensava" indica que, ainda que a paternidade de José era fosse presumida pelo povo, ele não era biologicamente pai de Jesus.
Isto é de extrema importância, pois ambas as genealogias reafirmam o carácter miraculoso do nascimento do Salvador, que é, de facto, Filho de Deus, Deus feito carne por obra do Espirito Santo.
Mas além disso, Deus não deixa nenhuma ponta solta, e escreve certo por linhas tortas, porque a Ele nada é impossível.
Na genealogia de Mateus (que é segundo a natureza), são José é descendente de Jeconias, filho do Rei Joaquim. No entanto o Senhor castigou esse rei, prometendo que não levantaria Rei em Israel seu descendente. Diz o profeta sobre a descendência de Joaquim: “Pois bem, eis o que diz o Senhor a respeito de Joaquim, rei de Judá: Nenhum de seus descendentes ocupará o trono de Davi” (Jr 36,30).
Assim, ainda que, de forma legal, José conceda legitimidade à herança real do Salvador, de forma alguma a poderia dar se fosse seu filho de sangue. E isto, por si só, seria suficiente para cumprir as duas profecias, de que o Messias viria da casa de Davi, mas que não seria descendente de sangue do Rei Joaquim. A herança de sangue vem, sim, por Maria.
Por último, vemos que Maria se foi recensear com José em Belém:
“Ora, naquele tempo, foi publicado um edito de César Augusto, mandando recensear o mundo inteiro. Esse primeiro recenseamento teve lugar na época em que Quirino era governador da Síria. Todos iam se fazer recensear, cada qual em sua própria cidade. José também subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia , à cidade de David , que se chama Belém, na Judéia , porque era da família e da descendência de David , para se fazer recensear com Maria , sua esposa, que estava grávida.” (Lucas 2:1,5).
Isto parece insinuar que Maria também precisava recensear-se em Belém, o que explica porque, estando a sua gravidez avançada, tenha acompanhado o marido.
O objetivo de ambas as genealogias é levar-nos a contemplar a Providência divina e a Omnipotência de Deus que, desde a queda dos nossos primeiros pais, planeou a nossa salvação de uma forma sublime, entregando-nos o seu Filho unigénito, o Amor encarnado.
Rezemos para que a Sagrada Família prepare os nossos corações com uma fé abrasadora, para recebermos o Menino Jesus no Natal que se aproxima.
Deus Vult!
Apêndice:
Genealogia segundo são Mateus:
Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
Abraão gerou a Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos;
E Judá gerou, de Tamar, a Perez e a Zerá; e Perez gerou a Esrom; e Esrom gerou a Arão;
E Arão gerou a Aminadabe; e Aminadabe gerou a Naassom; e Naassom gerou a Salmom;
E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé;
E Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.
E Salomão gerou a Roboão; e Roboão gerou a Abias; e Abias gerou a Asa;
E Asa gerou a Josafá; e Josafá gerou a Jorão; e Jorão gerou a Uzias;
E Uzias gerou a Jotão; e Jotão gerou a Acaz; e Acaz gerou a Ezequias;
E Ezequias gerou a Manassés; e Manassés gerou a Amom; e Amom gerou a Josias;
E Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos na deportação para babilônia.
E, depois da deportação para a babilônia, Jeconias gerou a Salatiel; e Salatiel gerou a Zorobabel;
E Zorobabel gerou a Abiúde; e Abiúde gerou a Eliaquim; e Eliaquim gerou a Azor;
E Azor gerou a Sadoque; e Sadoque gerou a Aquim; e Aquim gerou a Eliúde;
E Eliúde gerou a Eleazar; e Eleazar gerou a Matã; e Matã gerou a Jacó;
E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.
Mateus 1:1-16
Genealogia segundo São Lucas:
“Ora o mesmo Jesus, ao começar o seu ministério, tinha cerca de trinta anos, sendo filho (como se julgava) de José, filho de Heli, filho de Matã, filho de Levi, filho de Melqui, filho de Janai, filho de José, filho de Matatias, filho de Amós, filho de Naum, filho de Esli, filho de Nagai, filho de Máate, filho de Matatias, filho de Semei, filho de José, filho de Jodá, filho de Joanã, filho de Resá, filho de Zorobabel, filho de Salatiel, filho de Neri, filho de Melqui, filho de Adi, filho de Cosã, filho de Elmadã, filho de Er, filho de Josué, filho de Eliézer, filho de Jorim, filho de Matã, filho de Levi, filho de Simeão, filho de Judá, filho de José, filho de Jonã, filho de Eliaquim, filho de Meleá, filho de Mená, filho de Matatá, filho de Natã, filho de Davi, filho de Jessé, filho de Obede, filho de Boaz, filho de Salá, filho de Naassom, filho de Aminadabe, filho de Admim, filho de Arni, filho de Esrom, filho de Farés, filho de Judá, filho de Jacó, filho de Isaque, filho de Abraão, filho de Terá, filho de Nacor, filho de Serugue, filho de Ragaú, filho de Faleque, filho de Éber, filho de Salá, filho de Cainã, filho de Arfaxade, filho de Sem, filho de Noé, filho de Lameque, filho de Matusalém, filho de Enoque, filho de Jarete, filho de Maleleel, filho de Cainã, filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus.” (Lucas 3:23-38)
