ANJOS E DEMÓNIOS - 1ª Parte: Para quê conhecê-los? Natureza angélica vs Humana
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Começou, dia 15 de Agosto, a Quaresma de São Miguel Arcanjo! A Quaresma de São Miguel é um período oportuno para reavivar a nossa devoção aos santos anjos e tomarmos consciência da guerra espiritual que nos envolve.
Por isso, numa pequena série de publicações ao longo destes 40 dias, falarei um pouco destes espíritos que nos rodeiam, a que chamamos anjos e demónios. Não que eu seja algum perito (longe disso) mas procurarei apresentar pequenas meditações baseadas na angiologia católica, em especial em São Tomás de Aquino, conhecido como o "doutor angélico" pelos seus escritos sobre esta matéria.
Mas porque haveríamos de os conhecer melhor? Em que é que isso contribui para a nossa vida? Será assim tão relevante?
Definitivamente sim, e dou duas razões para isso:
A primeira razão é que, sem nos aprercebermos, estes seres influenciam o nosso dias-a-dia a toda a hora. "Os nossos verdadeiros inimigos não são de carne e osso, mas sim espíritos malignos que vagueia pela terra procurando a nossa perdição" (Efésios 6,12). Por outro lado, os espíritos benignos, isto é, os anjos, zelam pela nossa salvação, e o seu socorro é-nos mais precioso do que julgamos.
Só tomando conhecimento desta batalha espiritual em nos encontramos (quer queiramos quer não) e percebendo como é que fazemos parte dela, é que poderemos reagir às artimanhas dos nossos inimigos e procurar o auxílio nos nossos aliados celestes.
A Segunda razão é antropológica. Para se compreender a si mesmo, o ser humano precisa entender a sua natureza única, composta de alma e corpo.
Embora os anjos sejam seres pessoais como nós, tanto os anjos como os demónios são puros espíritos, no sentido de não terem corpo. Por isso, porque aquilo que é espiritual é mais nobre que é corporal, a natureza angélica é superior à natureza humana.
O ser humano é, por assim dizer, o espírito mais baixo e o corpo mais elevado, o anjo mais estúpido e o animal mais inteligente. Mas não é nem um nem o outro e sim um Humano. Por isso, tal como a medicina estuda a biologia animal para nos compreender melhor, a angiologia pode ajudar-nos a compreender a nossa alma e a combater as suas doenças.
Posto isto, há que renunciar veemente tanto o erro do angelismo - que pensa o homem como um ser espiritual "preso" a um corpo, negando-lhe a semelhança com os animais - como o erro do animalismo - que lhe nega a semelhança com os anjos, rebaixando-o à dignidade de um mero animal acidentalmente dotado de racionalidade.
O ser humano foi pensado e desejado por Deus com uma natureza simultaneamente corpórea e espiritual. A nossa alma foi feita e dá forma ao corpo, e por isso a nossa plenitude e beatitude também anseia pela glorificação de corpo e alma.
Ao longo da história, a incompreensão destes aspetos da nossa natureza têm conduzido a erros, heresias e graves perturbações sociais. De facto, negar a dualidade da natureza humana gera uma série de erros catastróficos na nossa vida e sociedade.
Desordens causadas pela incompreensão da natureza humana:
- 1) A negação da nossa natureza decaída e tendencialmente má, ilibando a alma e culpando o corpo e/ou a envolvente. Este erro tem servido para base de muitas ideologias, que vêm o homem como o produto da sociedade, negando-lhe o livre-arbítrio.
- 2) A ideologia de género, que nega a ligação da realidade biológica com a espiritual. Este erro, muito atual, destrói a capacidade do indivíduo de se compreender a si mesmo e procurar a sua realização plena, e põe em risco o núcleo da sociedade: a família.
- 3) Vemos hoje um grande menosprezo pela importância de um envolvimento adequado dos sentidos e dos gestos ao culto religioso e à oração (levando à degeneração dos ritos litúrgicos, à desvalorização das imagens sacras, desprezo pelos gestos exteriores de devoção, etc.);
- 4) A perda do sentido e da vida de penitência como forma de luta contra as paixões desregradas e más inclinações, é ainda fruto da negação da relação íntima entre corpo e alma.
- 5) A primazia do prazer (imoralidades sexuais, bestialidade, devassidão, gula, etc) brota da regeição da imortalidade da alma, vendo o homem como um mero animal, entregue às suas paixões e instintos;
- 6) As filosofias niilistas e materialistas, para as quais o sentido do homem está no mundo material e não em Deus, descuidando da alma e da vida eterna e desnorteando o homem, vendo-o como um ser sem sentido;
- 7) Rebaixamento da dignidade da vida humana a um mero utilitarismo
Poderíamos continuar a lista por muito tempo. Mas, para podermos combater esta hidra de mil cabeças são precisas armas de mui especial qualidade, como veremos.
Na próxima parte, procuraremos ver quem são os anjos e o que têm eles a ver com a nossa história.
Possam os anjos nos guiar no auto-conhecimento e a contemplar a criatividade e sabedoria com que Deus tudo criou e dispôs.
Que a proteção do anjos nos guie para, um dia, com eles, contemplarmos a Deus no Paraíso.
Deus Vult!