O AMARGO TRILHO - Poema
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Ouve agora, ó coração meu.
Vira-t’olha com’Ele sofreu.
Vê a miséri’a que se reduz
Aquele que nos trouxe a Luz!
Vê a miséri’a que se reduz
Aquele que nos trouxe a Luz!
Abandonado pelos amigos,
Vê lobos em todos os sentidos.
Arrastam-no para ser julgado,
E o Inocente é condenado.
Intermináveis golpes brutais,
Desferem os flagelos ao dorso.
Retalham-lh’ a carne por demais,
Os soldados, com pouco esforço.
O escalpe, rasgam-lhE zombando,
Com duros espinhos coroando.
Seu puro sangue risca-lh’a cara,
Enquant’o açoitam c’um’a vara.
Preferem ver Barrabás liberto
Que Ele ter por mais tempo perto.
Querem um cristo conquistador
E não Este que propõe amor.
Aos ombros lhe põem o madeiro
Sem saber que neles já levava
Os pecados do Mundo inteiro
Ai! Com’aquilo tudo pesava.
Observa, alma comodista,
Não se cansam de o ultrajar.
‘ind’assim só lhe vejo na vista
Compaixão por quem o quer matar.
A caminho do monte Calvário,
Carreg’á Cruz meu Jesus Senhor.
Faz-se de cordeiro voluntário,
Caminhando par’o matador.
À vista de Sua mãe chorosa,
Cai o Homem sob cruz tremenda.
Acorr’Ela, toda lastimosa,
P’r’acudir seu Menino na senda.
Erguendo Crist’os olhos gentis,
Encontr’os da Mulher inocente.
Entr’algozes e escarros vis,
Vê-o ela prosseguir em frente.
De sangue deixa rasto o Filho,
Pelo percorrid’amargo trilho.
Sua Mãe, de lágrimas perlada,
Reg’o solo dorida’e calada.
Para o suplício concluir,
Por bom Cirineu é ajudado.
Por três vezes viu-s’Ele cair
Antes de chegar ao outro lado.
No topo do monte de horror,
Entre dois ladrões já castigados,
Repartem as vestes sem pudor,
E ouvem-s’impropérios irados.
Reparem bem, ó rebeldes almas,
O que vão fazer esses malvados:
Compridos pregos furam-lh’as palmas,
Pés e mãos, na Cruz, ficam cravados!
Cruel espada de dor penetrou
O Imaculado Coração
Da Virgem por quem Deus começou
A História da Salvação!
Erguido no madeiro, o Cristo,
Dá-nos Ele, por Mãe, esta Flor.
Com Ela, por Jesus me contristo,
Desejando unir-m’ao seu amor.
Afixad’assim todo estendido,
Sorvend’este cálice de dor
Amargado vinh’é-lhe servido,
Tal só beberá quando ao Céu for!
Lembrado de su’última ceia,
Quando Pão e Vinho consagrou,
P’ra to’d’aquele que n’Ele creia,
Invoque o Corpo qu’entregou.
Ó como sofria’a doce Mãe
Vendo padecer seu Filho querido!
Assim faleceu dos reis o Rei,
Por nossos pecados tão ferido!
Terra e céu são agor’abalados,
Em tremor e negrume sem jeito!
Escond’o bust’ ó Mãe sem pecados!
Do morto vão trespassar o peito.
A lança voa em vibrante canto,
E no coração d’Ele s’aloja.
Assim aberto o peito Santo,
Sangue e água de lá se arroja.
No sangue jorrado se lavou,
D’ arrependid’alma, o delito.
Loucuras d’amor realizou
Nosso amado Senhor Deus Bendito
André Pires