PAIXÃO DE SÃO JOÃO BAPTISTA - Precursor de Cristo na morte como na vida
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29 Agosto - Degolação de São João Baptista
"João Batista, precursor de Cristo na morte como na vida"
Homilia de São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja:
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 11,2-11:
1 Naquele tempo:
2 João estava na prisão.
Quando ouviu falar das obras de Cristo,
enviou-lhe alguns discípulos,
3 para lhe perguntarem:
‘És tu, aquele que há de vir,
ou devemos esperar um outro?’
4 Jesus respondeu-lhes:
‘Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo:
5 os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam,
os leprosos são curados, os surdos ouvem,
os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados.
6 Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!’
7 Os discípulos de João partiram,
e Jesus começou a falar às multidões, sobre João:
‘O que fostes ver no deserto?
Um caniço agitado pelo vento?
8 O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas?
Mas os que vestem roupas finas
estão nos palácios dos reis.
9 Então, o que fostes ver? Um profeta?
Sim, eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta.
10 É dele que está escrito:
‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente;
ele vai preparar o teu caminho diante de ti’.
11 Em verdade vos digo, de todos os homens que já
nasceram, nenhum é maior do que João Batista.
No entanto, o menor no Reino dos Céus
é maior do que ele.
Palavra da Salvação.
"Por que razão, quando é feito prisioneiro, João Batista envia os seus discípulos perguntar a Cristo: «És Tu Aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?», como se não soubesse quem era Aquele que lhes tinha apresentado? […] Esta pergunta depressa encontra resposta se examinarmos o tempo e a ordem com que se desenrolaram os factos. Nas margens do Jordão, João afirma que Jesus é o Redentor do mundo (Jo 1,29); contudo, uma vez na prisão, pergunta se Ele é Aquele que havia de vir. Não é que duvide de que Jesus seja o Redentor do mundo, mas quer saber se Aquele que veio em pessoa ao mundo vai também descer em pessoa às prisões da mansão dos mortos. Porque João também precederá nos infernos, com a sua morte, Aquele que anunciou ao mundo enquanto precursor. […]
É como se dissesse claramente:
«Da mesma forma que Te dignaste nascer pelos homens, diz-nos se Te dignarás também morrer por eles, de tal forma que, tendo sido precursor do teu nascimento, eu o seja também da tua morte e possa anunciar na mansão dos mortos que Tu vais vir, tal como anunciei ao mundo que Tu tinhas vindo».
É por isso que a resposta do Senhor fala da humilhação da sua morte logo após ter enumerado os milagres operados pelo seu poder: «Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo». À vista de tantos sinais e de tão grandes prodígios, ninguém tinha razão para se escandalizar, antes para se admirar. Surgiu contudo uma grave ocasião de escândalo no espírito dos que não acreditaram quando O viram morrer, mesmo depois de tantos milagres. Donde a palavra de Paulo: «Pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios» (1Cor 1,23). […] Portanto, quando o Senhor diz: «Bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo», estará provavelmente a referir-se à abjeção e humilhação da sua morte.
É como se dissesse abertamente:
«É certo que faço coisas admiráveis, mas nem por isso Me recusarei a sofrer coisas ignominiosas. Uma vez que vou seguir João, morrendo, que os homens não desprezem em Mim a morte depois de terem venerado os milagres».
Diz o mesmo Santo Papa e Doutor da Igreja, sobre as circunstâncias do Martírio de São João:
"Não posso considerar sem profunda perplexidade - comenta São Gregório Magno - que este homem (São João Batista), cheio do Espírito de profecia desde o ventre de sua mãe, de quem foi dito (pelo próprio Cristo) não haver outro maior do que ele entre os nascidos de mulher, tenha sido enviado à prisão por aqueles ímpios, tenha sido massacrado para recompensar a dança de uma rapariga e que, sendo um homem de tal austeridade, tenha vindo a morrer entre as gargalhadas de homens tão pérfidos.
Poderemos nós crer que tenha havido algo (algum pecado) na sua vida que justifique aquela morte infame? Mas como poderia aquele que comia apenas gafanhotos e mel silvestre pecar pela comida? Em que ocasião poderia alguém ter sido por ele ofendido, se ele nem saia do deserto? De onde vem que o Deus Todo-Poderoso tenha abandona de tal forma aqueles que Ele próprio elegeu para tão alta dignidade antes dos séculos, deixando-o receber tal tratamento?
A verdade é que, como é evidente à piedade dos fiéis, o Senhor aflige assim no mundo os Seus para que tornar evidente a forma como os recompensará no Céu; deixa-os cair exteriormente no desprezo, porque interiormente faz com que cheguem ao incompreensível. Daqui podemos tirar o quanto haverão de sofrer (depois da morte) aqueles que Deus reprova, se assim afligir no mundo aqueles a quem ama."
Nós Vos rogamos, Senhor, que a intercessão de vosso Precursor e Mártir ,São João Batista, nesta solene festividade, nos alcance a coragem do testemunho da Verdade diante de grandes e pequenos. Que o seu exemplo nos livre de nos escandalizarmos da Cruz de Cristo, e nos ensine a abraçar alegremente as contrariedades e dores da vida, em união à Paixão de nosso divino Redentor, para com ele e com todos os Vossos anjos e santos, possamos um dia cantar o Eterno hino de louvor, na Vossa Glória!
São João Batista, rogai por nós!
Deus Vult!